sexta-feira, 31 outubro, 2025

Quando o lixo que incomoda é o da nossa intolerância

Na manhã de 11 de agosto, Belo Horizonte parou diante de uma tragédia. Laudemir de Souza Fernandes, gari de 44 anos, estava em mais um dia de trabalho, recolhendo o lixo que todos nós produzimos, quando foi assassinado com tiros disparados por um empresário irritado com o trânsito e incomodado com o caminhão de coleta.

O caso não é apenas sobre trânsito. É sobre uma ferida aberta na nossa sociedade: a desigualdade que define quem merece paciência e quem merece desprezo. Laudemir não era um obstáculo na rua. Ele era um trabalhador essencial, que mantinha a cidade limpa e saudável. Mas, aos olhos de quem carrega o peso do privilégio e a pressa como desculpa, sua vida foi reduzida a um incômodo.

Quando um homem armado decide que um atraso justifica tirar uma vida, vemos o quanto a intolerância se tornou parte da rotina. O empresário Renê da Silva Nogueira Junior, 47 anos , marido de uma delegada de Polícia Civil é suspeito de matar o gari. Ele foi preso pela Polícia Militar, em uma academia. Vemos como a raiva,  alimentada pelo estresse, pelo individualismo e pelo desrespeito,
encontra eco em uma sociedade que, muitas vezes, não enxerga a dignidade de todos de forma igual.

Os números mostram que a violência no trânsito cresce, mas este episódio mostra algo mais profundo: a perda da empatia. Perdemos a capacidade de esperar, de compreender, de reconhecer o valor do outro,  especialmente quando esse outro está em um lugar social que não o protege.

Evitar novas tragédias passa por muito mais do que leis ou multas. Passa por educação emocional, respeito ao trabalho de todos, e pela coragem de enfrentar nossos preconceitos diários. Passa por lembrar que o tempo que se “perde” esperando um gari passar é infinitamente menor que o tempo eterno que a família de Laudemir agora enfrenta sem ele.

Que sua morte não seja apenas mais uma estatística, mas um espelho diante do qual possamos encarar o que realmente precisa mudar: nós mesmos.

Claudia Eleonora

Claudia Eleonora

Cláudia Eleonora Ribeiro Alves é campista. Tem formação acadêmica em publicidade e propaganda e jornalismo. Já atuou em emissoras do sistema Globo, como repórter e apresentadora. Na Rede Record ocupou os cargos de repórter , editora de textos, editora-chefe e gerente de jornalismo, com área de cobertura nas regiões norte e noroeste fluminense, região dos lagos e parte da região serrana. Atualmente está à frente da revista ‘Plataforma - Guia de Negócios’ que apresenta caminhos estratégicos para o desenvolvimento econômico do interior do Rio de Janeiro. Também atua no projeto Elevador Social (@elevadorsocial_) de promoção de justiça social na busca por equidade no mercado de trabalho para a população negra.

RelacionadaPostagens

Notícias Recentes

Welcome Back!

Login to your account below

Retrieve your password

Please enter your username or email address to reset your password.

Add New Playlist