Na manhã de 11 de agosto, Belo Horizonte parou diante de uma tragédia. Laudemir de Souza Fernandes, gari de 44 anos, estava em mais um dia de trabalho, recolhendo o lixo que todos nós produzimos, quando foi assassinado com tiros disparados por um empresário irritado com o trânsito e incomodado com o caminhão de coleta.
O caso não é apenas sobre trânsito. É sobre uma ferida aberta na nossa sociedade: a desigualdade que define quem merece paciência e quem merece desprezo. Laudemir não era um obstáculo na rua. Ele era um trabalhador essencial, que mantinha a cidade limpa e saudável. Mas, aos olhos de quem carrega o peso do privilégio e a pressa como desculpa, sua vida foi reduzida a um incômodo.
Quando um homem armado decide que um atraso justifica tirar uma vida, vemos o quanto a intolerância se tornou parte da rotina. O empresário Renê da Silva Nogueira Junior, 47 anos , marido de uma delegada de Polícia Civil é suspeito de matar o gari. Ele foi preso pela Polícia Militar, em uma academia. Vemos como a raiva,  alimentada pelo estresse, pelo individualismo e pelo desrespeito,
encontra eco em uma sociedade que, muitas vezes, não enxerga a dignidade de todos de forma igual.
Os números mostram que a violência no trânsito cresce, mas este episódio mostra algo mais profundo: a perda da empatia. Perdemos a capacidade de esperar, de compreender, de reconhecer o valor do outro, especialmente quando esse outro está em um lugar social que não o protege.
Evitar novas tragédias passa por muito mais do que leis ou multas. Passa por educação emocional, respeito ao trabalho de todos, e pela coragem de enfrentar nossos preconceitos diários. Passa por lembrar que o tempo que se “perde” esperando um gari passar é infinitamente menor que o tempo eterno que a família de Laudemir agora enfrenta sem ele.
Que sua morte não seja apenas mais uma estatística, mas um espelho diante do qual possamos encarar o que realmente precisa mudar: nós mesmos.
 
			 
					






 
							


