Campos e suas feridas históricas - Por Matheus Alvarenga

Campos e suas feridas históricas - Por Matheus Alvarenga

Os monumentos também representam a memória de um povo, e sem eles, a memória de uma sociedade fica ameaçada. Em nossa cidade não é diferente, o descaso com a memória de nossos heróis é um fator perceptível, assim também como representações que simbolizam a existência nativa. 

Neste texto, mostrarei algumas “feridas históricas” que permanecem abertas em nossa cidade. 

A ESTÁTUA DO ÍNDIO GOITACÁ 

Os nativos que aqui viveram possuem uma importância significativa em nossa história. Em Campos, existia na entrada da cidade uma estátua representando um índio goitacá, que era um nativo de nossa terra. A estátua chamava a atenção de quem passava pelo local e tinha uma grande importância simbólica que nos levava às origens de nosso povo. Em 2006, o ex-vice-prefeito Roberto Henriques decidiu retirar o índio da entrada da cidade, as razões são controversas. Segundo o prefeito, a Defesa Civil havia enviado um laudo ao seu gabinete solicitando a retirada do monumento em razão de seu péssimo estado de conservação. Ainda segundo o ex-chefe do executivo, existia uma preocupação do monumento desabar sobre alguém, por isso mandou retirar. Tal fato, somado ao seu curto governo, lhe rendeu a alcunha de “o prefeito que tirou o índio”. Esta ação foi uma das mais repercutidas em sua rápida passagem no executivo da cidade. Questionado sobre as possibilidades de reforma do monumento, o próprio político, em entrevista ao G1, assumiu que “na época houve um desprezo histórico”. De qualquer forma, a cidade perdeu mais um símbolo marcante de sua identidade. 

O BUSTO PERDIDO DO SALDANHA DA GAMA 

Em julho de 2015, o busto perdido do Almirante Luís Filipe de Saldanha da Gama foi finalmente encontrado após 48 anos de sumiço. O desaparecimento deste busto é mais um daqueles casos que ocorrem em razão do “apagão histórico” que Campos vive há décadas. 

O mais bizarro nesta história é que o busto do Almirante Saldanha da Gama foi confundido com o Coronel João Batista de Paula Barroso, e desta forma, o monumento foi mantido no pátio do Colégio Estadual Paulo Barroso. Um engano que durou décadas sem que nenhum professor ou aluno suspeitasse. 

 Após as autoridades reconhecerem o erro grotesco, o busto do Almirante Campista foi transferido para o corredor cultural da Câmara dos Vereadores.  

O CAVALO DE BENTA PEREIRA 

Em 1934, Campos se preparava para festejar o seu primeiro centenário. Para marcar o período festivo, foi encomendada uma estátua da heroína campista Benta Pereira montada em seu cavalo. A maquete da estátua chegou a ser criada pelo escultor Modestino Kanto, porém apenas o cavalo da Benta Pereira havia ficado pronto.  Em 1937,  este mesmo cavalo serviu de montaria para a estátua do primeiro ditador da República, o Marechal Deodoro da Fonseca, na Praça Paris, Rio de Janeiro.  

O monumento de Deodoro levava a assinatura do mesmo escultor, e o Monumento da Benta Pereira permanece sem ser construído até hoje. 

AS CONSEQUÊNCIAS E ALTERNATIVAS 

O descaso com os monumentos ainda ocorre com frequência, porém,  este não é o único  problema, nossa cidade não possui uma biblioteca municipal e dificilmente encontramos uma livraria que tenha em seu acervo as obras de autores como Júlio Feydit, Alberto Lamêgo, Horácio Souza, Godofredo Tinoco, entre outros.  

Além disso, precisamos incentivar o surgimento de novos autores, e os seus livros devem estar disponíveis nas escolas.  Será que as nossas crianças e adolescentes conhecem a história de Benta Pereira, Saldanha da Gama, Nilo Peçanha e José do Patrocínio? 

historia
*Matheus Alvarenga Gonçalves é um pesquisador e acadêmico do 6° período do curso de História da Universidade Federal Fluminense. Tem como principal área de pesquisa a História do Brasil Imperial.