Na escola, aprendemos que nossa bandeira nacional é cheia de significados simbólicos. Um dos mais criativos, e amplamente disseminados, para explicar as cores da bandeira é o seguinte: o verde representaria as matas, o azul os mares, o amarelo o ouro, e o branco a paz. No entanto, essa explicação, embora engenhosa, é uma mentira que tem enganado gerações e, surpreendentemente, persiste até hoje. Mas você já parou para pensar por que contaram essa mentira para você?
Nas instituições de ensino, a história do Brasil Império é, muitas vezes, marginalizada e contada de forma superficial, repleta de sofismas e simplificações. Isso impede que os alunos desenvolvam uma compreensão mais profunda e adequada sobre esse importante período da nossa história.
As cores da nossa atual bandeira foram inspiradas na antiga bandeira do Império Brasileiro. O verde simboliza a dinastia dos Bragança, representando a família do primeiro imperador do Brasil, Dom Pedro I. Já o amarelo faz referência à Casa de Habsburgo da Áustria, em homenagem à imperatriz Dona Leopoldina, esposa de Dom Pedro I.
Além dos símbolos reais dos Imperadores do Brasil, a bandeira imperial trazia ramos de café e tabaco, representando a base econômica do país na época. Ela também incorporava dois elementos que remetiam ao descobrimento do Brasil: no centro, estavam a cruz da Ordem de Cristo e a Esfera Armilar, acompanhadas por 19 estrelas, que simbolizavam as antigas províncias (ou estados) do Brasil. Acima de todos esses símbolos, destacava-se a Coroa Imperial.
Certamente, caro leitor, você deve estar se perguntando por que razão nos contaram essa mentira sobre os símbolos presentes em nossa atual bandeira nacional.
Para compreendermos melhor, precisamos voltar ao fatídico ano de 1889. Foi nesse ano que, em 15 de novembro, os militares republicanos, com o apoio do poderoso empresariado agrário, realizaram um golpe de estado. Esse golpe expulsou do Brasil toda a família imperial, então representada por Dom Pedro II. O objetivo dos republicanos era eliminar qualquer vestígio do passado imperial, o que resultou na mudança de nomes de ruas, praças e instituições para refletir o novo regime republicano. No Rio de Janeiro, por exemplo, as duas principais praças da cidade tiveram seus nomes alterados: a Praça do Paço Imperial passou a se chamar Praça XV de Novembro, em alusão ao dia do golpe, e o antigo Campo de Santana (ou Campo da Aclamação) foi renomeado como Praça da República. Em Campos, as mudanças não foram diferentes. A principal avenida que leva ao centro da cidade, hoje conhecida como Avenida XV de Novembro, antes do golpe, era chamada Avenida Dom Pedro II. Outras modificações em Campos ocorreram, mas falarei sobre elas em outra ocasião.
Dito isso, é claro que os republicanos não deixariam de lado a bandeira imperial, afinal, ela era o maior símbolo nacional. Logo após o golpe de 15 de novembro, os golpistas criaram aquela que seria a mais vergonhosa bandeira do Brasil: a bandeira republicana, inspirada na dos Estados Unidos. A semelhança era notável, com a diferença de que as cores vermelha e azul foram substituídas pelo verde e amarelo, numa tentativa de dar um toque “mais brasileiro”. Pois é, caro leitor, a primeira bandeira da República era praticamente uma versão da bandeira norte-americana, só que com tons verde e amarelo. Felizmente, essa bandeira durou apenas de 15 a 19 de novembro — meros 4 dias.
No dia 19 de novembro, com uma simples canetada, o ditador Deodoro da Fonseca instituiu a bandeira nacional como a conhecemos hoje. Não por acaso, é nesse dia que se comemora o Dia da Bandeira. O verde, representando a dinastia dos Bragança, e o amarelo, da Casa de Habsburgo, foram mantidos da antiga bandeira imperial. A partir daí, porém, foram tomados cuidados para reinterpretar esses símbolos. Nas escolas, na tentativa de apagar nossa tradição monárquica, passou-se a ensinar equivocadamente o verdadeiro significado da bandeira nacional.
Marc Bloch, um dos maiores teóricos da história, em sua obra Apologia da História, nos alerta para a importância do conhecimento histórico ao afirmar que “a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado.”
*Matheus Alvarenga Gonçalves é um pesquisador e acadêmico do 6° período do curso de História da Universidade Federal Fluminense. Tem como principal área de pesquisa a História do Brasil Imperial.