A educação é um pilar da sociedade, fundamental para o desenvolvimento de uma nação, exceto, claro, para nossos ilustres políticos. Afinal, para que se preocupar com algo tão trivial quanto o estudo quando se pode navegar habilmente pelas águas da ignorância e ainda assim alcançar as alturas do poder?
É amplamente sabido que nossos representantes, sábios por natureza, não necessitam do mesmo tipo de instrução formal que o resto de nós, meros mortais. Eles já nascem com uma compreensão inata das complexidades da política, da economia e da ética.
Imagine só que maravilha seria se nossos políticos se dedicassem aos estudos para aprimorar suas habilidades em falar muito sem dizer nada. Cursar Filosofia e Retórica os ensinaria a enrolar os eleitores com discursos floreados, cheios de palavras difíceis e ideias confusas, uma prática em que, convenhamos, já são verdadeiros mestres. Como dizia o grande orador Cícero, "Nada é tão admirável quanto falar muito e não dizer absolutamente nada."
Nada como um bom curso de Economia para aprender a arte de equilibrar as finanças públicas. Mas, claro, aqui o objetivo seria entender os melhores meios de transformar um salário público em um patrimônio multimilionário. Afinal, a gestão dos recursos públicos é uma ciência tão complexa que só pode ser compreendida pelos mais eruditos em... interesses pessoais.
Qual a melhor forma de aprender sobre ética e moral do que através de extensos estudos filosóficos? Talvez para então, com grande autoridade, dissertar sobre a importância desses valores, apenas para garantir que eles sejam seguidos rigorosamente pelos outros, nunca por si mesmos. Aristóteles ficaria orgulhoso ao ver como seus ensinamentos sobre ética são tão bem aplicados em discursos e tão solenemente ignorados na prática.
E que tal se nossos políticos estudassem História para aprender com os erros do passado? Assim poderiam atualizar suas estratégias de corrupção e nepotismo, garantindo que suas práticas estejam sempre um passo à frente das investigações. Afinal, nada melhor do que aprender com os maiores escândalos da história para não cair nas mesmas armadilhas e inovar na arte de se perpetuar no poder.
Talvez um pouco de Direito ajudasse a não ter que passar pelo embaraço de propor leis que contradizem a própria Constituição ou de interpretar a legislação de forma tão criativa que até os juristas mais renomados ficam boquiabertos. Mas quem precisa estudar leis quando se pode simplesmente ignorá-las ou torcê-las conforme a conveniência? Estudar Direito é para amadores; nossos políticos, por outro lado, são artistas da interpretação normativa.
Então, por que os políticos deveriam estudar mais? Para aprimorar ainda mais a arte de fazer promessas vazias, manejar o dinheiro público com habilidade (em benefício próprio, é claro), pregar moralidade de maneira convenientemente seletiva e manter-se sempre à frente nas novas tendências de corrupção. Mas, claro, isso tudo é um exercício puramente hipotético e irônico, porque todos sabemos que nossos políticos já são brilhantes o suficiente para não precisarem desses detalhes tão mundanos como a educação formal.
Julio Drummond
OBS: Este texto é uma reflexão irônica e não representa a opinião oficial do jornal. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, ou talvez não.
*Evandro Barros é advogado especialista em Direito Civil e Processual Civil; Mestre em Cognição e Linguagem; Dr. h.c. em Ciências Humanas, Filosofia; Ciências Jurídicas e Direitos Humanos. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas.