Atualmente, muito se discute a importância do transporte ferroviário no desenvolvimento dos grandes centros urbanos. Certamente, quando falamos em transporte ferroviário em Campos, muitos terão uma vaga memória daquela que foi a principal Estação Ferroviária do interior do Estado do Rio, a famosa Estação Leopoldina.
A história das linhas ferroviárias em Campos tem muito a ver com as grandes usinas que aqui existiam. Antes de 1875, data esta que marca o surgimento da E.F. Campos a Macaé, o transporte de pessoas e o escoamento de mercadorias eram realizados através do transporte de cabotagem no Rio Paraíba do Sul, que por sua vez também funcionava como uma importante hidrovia à época.
O CANAL CAMPOS-MACAÉ
Para facilitar o envio de produtos das usinas de Campos com o porto de Macaé, na década de 40 do século XIX iniciou-se a construção do Canal Campos-Macaé (Beira Valão), que por sua vez foi construído pelas mãos dos escravizados. A obra tinha o efeito tão significativo que o próprio jovem Imperador D. Pedro II veio fiscalizar a construção. No final de sua construção, em 1861, o canal passou a ser o maior canal artificial da América do Sul (com 106 km), sendo superado anos depois pelo canal de Suez, que contava com 163 km.
O SURGIMENTO DA ESTAÇÃO
Com a chegada da estrada de ferro trazida ao Brasil através do Barão de Mauá, muitos usineiros e fazendeiros perceberam que as ferrovias facilitariam ainda mais o transporte de seus produtos. O governo imperial e a iniciativa privada também estimularam a criação de novas linhas com trens de passageiros. Em 1875, a E.F. Macaé a Campos é inaugurada. A principal Estação da cidade era conhecida como a “Estação do Saco”.
Ao longo dos anos, a Ferrovia se expandiu ainda mais, comprando novos ramais de outras estações, se transformando em uma das ferrovias mais importantes do país.
No final do século XIX, a empresa “Leopoldina Railway” realizou a aquisição da E.F. Macaé a Campos, deste modo ocorre a mudança para o nome E.F. Leopoldina. No início do século XX, a E.F. Leopoldina se expande ainda mais, tomando as linhas da antiga Estação Campos-Carangola. Em razão desta grande expansão, em 1907 é construída a Ponte de Ferro que cruza o Rio Paraíba do Sul.
A DECADÊNCIA
Durante o Governo Juscelino Kubitschek, na década de 1950, foram realizadas diversas políticas para expandir as rodovias, essa época também marca a chegada de grandes montadoras de automóveis ao Brasil, fazendo crescer ainda mais o consumo de automóveis no país. Nesta época, parecia que este tipo de política era acertada, porém, as crises do petróleo provaram o contrário.
Durante o período de expansão das novas rodovias, os bons e eficazes trens foram sendo esquecidos, muitas ferrovias privadas foram parar nas mãos do Estado para sobreviverem, mas ainda assim não houve jeito, muitas linhas e estações foram abandonadas, assim como a nossa saudosa Leopoldina.
Na década de 80 e 90, ainda era possível embarcar em um trem em direção ao Espírito Santo ou ao Rio de Janeiro, mas essas últimas décadas marcaram o declínio total da Leopoldina. Nos anos 2000, suas atividades foram bastante reduzidas. Ainda no início dos anos 2000, durante a reforma da Av. vinte e oito de março, a saída da Estação foi bloqueada pelo novo asfalto da ciclovia, matando de vez as linhas que levavam a estação principal até as estações da baixada, sendo o último ramal a Estação Santo Amaro.
Recentemente, foram realizadas obras de retirada de trilhos em Guarus, mais especificamente na Av. Carmem Carneiro, no Jardim Carioca. Além da retirada de trilhos em Guarus, outro desmonte de trilhos ocorreu nas obras de revitalização da BR 101, no trecho próximo ao Shopping Boulevard. Desta forma, a estação perdeu totalmente sua ligação com as suas antigas linhas, estando hoje completamente isolada.
O ÚLTIMO SUSPIRO DA LEOPOLDINA E O SEU FIM
Em 2007, a estação foi religada em caráter de urgência pela prefeitura, após a cidade perder a sua principal ponte, a ponte Gen. Dutra. Neste ano, a ponte sofreu um sério abalo estrutural, o seu pilar principal cedeu e não conseguiu resistir às cheias do Rio Paraíba.
Uma locomotiva da FCA (Ferrovia Centro Atlântica) foi trazida a Campos para realizar o transporte de passageiros na cidade. Neste contexto, estações de embarque e desembarque foram criadas de maneira provisória. Apesar de muitos campistas gostarem e pedirem para que a estação retornasse definitivamente, o poder público não conseguiu fazer com que ela permanecesse servindo à cidade, e mais uma vez, a estação foi desligada. Hoje, no prédio da antiga estação, funciona a Secretaria Municipal de Educação.
Portanto, analisando hoje os efeitos da falta de uma estação ferroviária ativa na cidade, é possível constatar que o município perdeu uma grande chance de reutilizar esta valorosa estação, colocando-a para atender as localidades mais afastadas da cidade, como Santo Eduardo e Santo Amaro, por exemplo. Atualmente, a cidade conta com mais de 500 mil habitantes, e é possível observar o quanto a cidade tem sofrido em relação à falta de transporte coletivo em locais mais afastados. Neste caso, as grandes cidades aproveitam tudo o que têm à sua disposição para atender à demanda de seus cidadãos, meios de transporte como metrô, VLT e trens são utilizados e demonstram bons resultados. Contudo, infelizmente Campos parece ainda estar a anos-luz de realizar estas grandes melhorias estruturais.
