Neste mês, a Proclamação da República, ou melhor, o Golpe Republicano, completa 135 anos. É uma excelente oportunidade de relembrar a história de um dos maiores campistas de todos os tempos: o Dr. Nilo Procópio Peçanha, que mais tarde se tornaria Presidente do Brasil.
Nilo Peçanha nasceu em Campos dos Goytacazes, em 1867, numa família de agricultores, vivendo modestamente num sítio em Morro do Coco. Seu pai, Sebastião de Sousa Peçanha, administrava uma pequena padaria, onde o jovem Nilo ajudava nas atividades do comércio. Segundo o relato de Celso Peçanha em sua obra *Nilo Peçanha e a Revolução Brasileira*, Nilo era frequentemente visto lendo livros sobre o balcão da padaria, o que refletia seu precoce interesse por temas políticos. Já havia se declarado republicano e abolicionista desde jovem e, aos 12 anos, escrevia em seu próprio jornalzinho, *A República*, onde registrou frases como: “A escravidão é martírio, império é velharia. Dentro de poucos anos, ambos serão arrasados”.
Após concluir seus estudos preliminares no Liceu de Humanidades de Campos – que, por esta e outras razões, é um colégio quase mítico –, Nilo continuou sua educação no Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro, e passou por importantes faculdades de Direito no país, como a de Recife e a de São Paulo.
Nilo casou-se com Ana de Castro Belisário Soares de Souza, neta do Visconde de Santa Rita e bisneta do Barão de Muriaé. Este casamento gerou grande comoção em Campos devido às origens humildes e à cor de pele de Nilo, considerado por muitos como mulato. Um casamento interracial na época era visto como um ato impensável.
Ligado a diversos jornais e clubes abolicionistas, Nilo Peçanha estava frequentemente ao lado de grandes figuras abolicionistas, como Luís Carlos de Lacerda e José do Patrocínio. Mesmo com divergências entre os abolicionistas sobre a forma de governo, Nilo se dedicava a conspirar contra o Império, promovendo palestras, escrevendo em jornais e buscando aliados. Isso se intensificou após a abolição da escravidão em 13 de maio de 1888, quando Nilo passou a se dedicar integralmente à causa republicana, mesmo sabendo dos riscos, pois a República era vista como uma ideia ilegal no Brasil. De fato, o Art. 85 do Código Penal do Império do Brasil considerava crime qualquer tentativa de destruir a Constituição ou remover a forma de governo estabelecida. No entanto, graças à liberdade de expressão garantida pelo Imperador D. Pedro II, os republicanos puderam articular suas ideias sem represálias severas.
Em 4 de abril de 1888, junto com o Dr. Francisco Portela e o jornalista Pedro Tavares Júnior, Nilo lançou um manifesto para fundar um Clube Republicano em Campos. As reuniões conspiratórias ocorriam no Hotel Gaspar, na Praça São Salvador, e, em junho de 1888, o clube já tinha sua diretoria formada, com Targino da Silva Abreu Campista como presidente.
Nilo Peçanha se destacava como um dos principais líderes republicanos no interior da Província do Rio de Janeiro, percorrendo várias cidades para fundar novos clubes republicanos. Embora o republicanismo fosse popular entre as classes liberais, seu maior desafio era conquistar o apoio das classes mais humildes, geralmente monarquistas ou alheias ao conceito de República. Entre as cidades visitadas estavam Itaperuna, Laje do Muriaé, São Fidélis, Bom Jesus, Miracema, Natividade, Pádua, Porciúncula e São João da Barra. Em Laje do Muriaé, por exemplo, ele foi atacado com pedras por monarquistas e teve de fugir às pressas, num episódio conhecido como “As Garrafadas de Laje do Muriaé”.
Essas hostilidades, no entanto, não intimidaram Nilo. Em 22 de outubro de 1889, poucos meses antes da queda do Império, ele planejou uma conferência republicana no Teatro Empyreo de Campos, que foi impedida pela polícia. Nos dias finais da monarquia, Nilo já estava presente nas reuniões dos líderes do Golpe de 15 de novembro de 1889, e conspirava junto de Aristides Lobo, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva e Silva Jardim. Embora sua participação seja pouco mencionada, o campista teve um papel importante nos bastidores do movimento que resultou na queda do Império.
Após o golpe, ao retornar a Campos, Nilo foi recebido com grande celebração pelos alunos do Liceu de Humanidades de Campos, que aguardavam ansiosos o trem que trazia o líder republicano. Durante a República, ele ocupou diversos cargos de destaque, incluindo deputado constituinte, governador do Estado do Rio de Janeiro, Ministro das Relações Exteriores, Senador e, finalmente, Presidente da República.
